Ontem parecia Abril
Ainda ontem parecia Abril e sentia-se o ar pleno de esperança e futuro. Ouviu-se bem alto o som do bico do lápis azul a partir. E o capitão deitava ao lixo o último apara-lápis do país.
Ainda ontem parecia Abril e o cheiro a cravos vermelhos dominava. Cheirava a igualdade, a justiça, à pressa de recuperar o tempo perdido. Ao perfume mais doce aprisionado por 48 anos, que finalmente soltou sua fragrância verde, verde e vermelha.
Ainda ontem parecia Abril, quando a voz do protesto ganhou vida. Quando o povo deu corpo à liberdade. E todos voltaram a sentir-se parte de algo perdido para sempre.
Ainda ontem parecia Abril e as vontades individuais formaram um colectivo. Arregaçaram as mangas para construir democracia. Sacaram das penas para escrever constituição.
Ainda ontem parecia Abril e finalmente o povo podia sonhar em ter amanhã. Educar o país e fazê-lo progredir. Sempre na expectativa de entregar um futuro melhor para as gerações vindouras.
Foi isso que Abril permitiu. E ainda ontem parecia Abril. Mas hoje... Hoje parece anteontem.
Montijo, 13 de Setembro de 2015